Noite de lua

e teve aquela noite de lua grande.  

céu estava coberto de estrelas, até Júpiter e Saturno bem próximos àquela bola amarela.

tocava Maria Bethânia, peraí, qual era a música? vou lembrar.

“venha cá”, você me disse sorrindo.

“não sei dançar” te disse, enquanto você me puxava pelo braço fazendo minha saia de tule dançar sozinha.

meu corpo se aproximando do teu. tua camisa com alguns botões fora das casas. e dei direto com o nariz na curvinha do teu pescoço com o ombro. perfume caro. 

e eles nem estavam prestando atenção em nós. os copos e garrafas já se espalhavam pelo rack e pela estante. “cuidado com os livros” alguém gritou. e eu agradeci a advertência silenciosamente.

e nossos passos tentaram acompanhar “eu tenho uma casinha lá na Marambaia” - lembrei! Bethânia com Omara - mas foi um desastre pronto para tuas piadas. rimos ali. abraçados. como dois amigos quase bêbados. sabíamos que era teatro. nem eu, nem você tínhamos bebido o suficiente para chegarmos a este estado. a piada acabou, o riso cessou e, continuamos ali. um pra lá, dois pra cá. a música também já tinha acabado na vitrola, mas continuava entre nós. como se quiséssemos eternizar aquele momento. “falei pra tomar cuidado com os livros” ecoou pela sala. num susto saí daquele estado de torpor e corri para tentar salvar as páginas. J.D. Salinger. “poxa, cara, justo ele?” 

você já estava ao meu lado com um pano na mão. um pano. de chão. na mão. foi ali que entendemos que aquela conexão não poderia ser desperdiçada. um pano de chão. achei tão complexa aquela cena preenchida de sentimentos nobres. salvamos Franny & Zooey, pegamos umas cervejas e sentamos no parapeito da janela. você contou do dia em que se perdeu no centro. adorava te ouvir. teu português perfeito. o tom da tua voz. e falamos das ideias malucas que tínhamos para salvar o planeta. ou a raça humana. as ideologias que preenchiam nossas mentes jovens naqueles corpos nem tão jovens assim. cada um cheio de histórias, cheio de vida vivida, cheio de vida a viver. sentimos a urgência de nós acontecermos. uma brisa suave bateu em nossos rostos naquela noite quente. de lua cheia.

Comentários

Postagens mais visitadas